domingo, 21 de junho de 2009

brisa boa



sem regras
cobranças
padrões
nem grandes investimentos
dedicação total ao momento
o prazer pelo prazer
a amizade
o fluir dos ventos
brisa boa
brisa leve
traz consigo muito carinho
sem comprometimento
rio que corre gelado
fresco
madrugada a dentro
1/3/2009
Paula Orsi Cruz

não planejar


vida que se mostra aos poucos
sombra que se esvai
dando lugar pra luz
dentes cerrados se abrem em largos sorrisos
olhos duros que se transformam em doces
raiva transmutada em perdão
tristeza vertida em alegria
caos organiza a ordem
planos são abandonados
o único plano é não planejar
viver o momento com a intensidade que cada segundo merece
relações que fazem mal são expurgadas
novas relações saudáveis e benéficas são atraídas
a boca só repete coisas leves
o coração se eleva à cada dia


Paula Orsi Cruz

boca fechada

QUE MINHA BOCA SE FECHE PARA PALAVRAS PESADAS
DE BAIXO CALÃO OU XINGAMENTOS
QUE EU CONTROLE O IMPULSO DO SANGUE NA VEIA
DO PERDER A CABEÇA PELO QUE É PEQUENO

Paula Orsi Cruz

desta água não beberei


DESTA ÁGUA JÁ NÃO QUERO MAIS BEBER
À ESTA TERRA PERTENCER
ESTES ARES RESPIRAR
NESTA LAVOURA LIDAR
NÃO QUERO MAIS TIRAR DESTA LABUTA MEU SUSTENTO
NÃO É DISSO QUE ME ALIMENTO
PROCURO ÁGUAS CRISTALINAS
CÉU ABERTO
SOL EM MOVIMENTO
LUA À SORTE
FRANQUEZA
PESSOAS GENTIS
MENSAGENS SUTIS
FÉRTEIS SEMENTES

PAULA ORSI CRUZ

perca-se na multidão


perca-se na multidão
não te acompanharei desta vez
já encontrei o que procurava e não estava na solidão das multidões
busque prazeres mundamos
enquanto eu encontro deleites reais
enquanto pouco doa e tudo quer
clamarei por reciprocidade
enquanto alimenta insaciável ego
busco envenenar o meu
enquanto teme a prisão
aproveito a liberdade de não temer
enquanto acorrenta-se a medos
deixando de viver
me liberto das amarras de eternamente temer
em sua ânsia de tudo abraçar
esquece-se de quem mais precisa
com medo de se envolver deixarás de viver?
eu viverei cada segundo com intensidade visceral
respirarei amor
exalarei amor
aguardarei até entenderes
o que é esta emoção

Paula Orsi Cruz
21/7/2008

hoje não quero ver o sol





bem que hoje podia ser dia de eclipse
hoje não quero ver o sol
hoje não quero ouvir os pássaros
hoje não quero nada nem ninguém
nada além do conforto da minha cama
o acalento da minha geladeira
a companhia de um bom livro
hoje quero sumir e ser sumida
consumir e ser consumida
hoje preciso de silêncio
quero ouvir a minha dor
não fingir sorriso fútil
hoje não penteio cabelo
não escovo os dentes
não tomo banho
hoje não leio jornal
esse dia é só meu e da minha dor
é dia de rosas no jardim
de terra embaixo das unhas
hoje é dia de um bom samba
hoje é dia de telefone mudo
interfone surdo
dia de absurdo
dia de paixão
cega luz de vela
hoje parei pra verter todas as lágrimas
hoje tentarei te esquecer

Paula Orsi Cruz
21/8/2007

Foto: Eduardo Banderas

balança de um prato só



de que lhe serve um coração se por ninguém ele bate mais forte?
de que lhe serve uma balança de um prato só?
de que lhe serve a razão se não há contra ponto da emoção?
há quanto tempo não verte lágrimas?
há quanto tempo não sente palpitações no peito?
habitam borboletas em seu estômago?
sabes do que se trata?
se não sentes falta é porquê nunca sentiu
se sentiu  prendeu-se à dor e não ao crescimento
se não sentiu permita-se
se sentiu lembre-se
pois a vida não tem valia se não for vivida intensamente
se o amor não foi sentido
se o medo não for vencido

Paula Orsi Cruz
21/8/2007

TE AMO POR TUDO


TE AMO NO ENTANTO
NO ENCANTO DE AGORA
NO PRANTO DE AMANHÃ
NO PASSADO DE ONTEM
TE AMO NA VIDA
TE AMO NA MORTE
TE AMO NO TUDO
TE AMO NO NADA
TE AMO VESTIDA
TE AMO PELADA
AO LONGO DO DIA
PELA MADRUGADA
TE AMO CANTANDO
TE AMO DANÇANDO
TE AMO SORRINDO
TE AMO CALADA
TE AMO POR TUDO
TE AMO POR NADA
AO LONGO DA VIDA
NESTA CAMINHADA
SEMPRE POR PERTO
OU PELA ESTRADA
QUANDO SANTA
QUANDO SAFADA
TE AMO PRA TUDO
TE AMO PRA NADA
TE AMO NO ESCURO
TE AMO NO CLARO
TE AMO HOJE MAIS QUE ONTEM
BEM MENOS QUE AMANHÃ

PAULA ORSI CRUZ

quarta-feira, 10 de junho de 2009

RALO

ESCORRAM PELO RALO
TAIS PALAVRAS
PRECONCEITOS
JULGAMENTOS
ENTRETENIMENTO NA VIDA ALHEIA
FALSO PERDÃO
PERDÃO DE SI
DO OUTRO
OUTREM
NINGUÉM
ONTEM SOLIDÃO

Paula Orsi Cruz

PALAVRA CRUZADA


MEU NEGO
SEU BRANCO
PRA QUE O ESPANTO?
SEUS GENES
MUITOS GÊNIOS
MISTURANDO SEUS CANTOS
LONGE FÍSICO
ETÉREO
SEM MAIORES CRITÉRIOS
AMOR
PALAVRAS CRUZADAS
VIDAS SEPARADAS
MISTÉRIO PASSADO
CAMUFLADO
LEMBRANÇAS EMBAÇADAS
VERDADES E MENTIRAS
CONTINUO DO SEU LADO
Paula Orsi Cruz

PAPAGAIO


DELÍCIA DE LUGAR
DE ESTAR
DE CONVIVER
TUDO BELO
AQUI ALI
ATÉ NA PONTA DO NARIZ
NOVAS PAISAGENS
IMAGENS
LETRAS
RITMOS
DANÇA
EXOTISMO
ESOTEIRISMO
MISTÉRIO
EMOÇÃO
CORAÇÃO TORNA BATER
PERFEITA PAZ
SENSAÇÃO
PAPAGAIO AINDA TE ENCONTRO
NA CABEÇA DO LEÃO
VISTAS NUNCA VISTAS
MORRO NUNCA ALCANÇADO
GANHAR ESTE MUNDO LILÁS DO SEU LADO

2006

DEBOCHE


COLAR
COLEIRA
BROCHE
O QUE TIVER DEBOCHE
JACARÉ
ONÇA
ZEBRA
FICA NO BOSQUE
DEIXA LÁ
SEM DESFRUTAR
SÓ OLHAR
APRECIAR

Paula Orsi Cruz

CHEGADAS E PARTIDAS


morte com cheiro de vela
gosto de saudade
doce odor de flores
pedras que acompanham caminho pelo deserto
para nova estação
em ti encontra luz
estendes uma mão
reencontros
despedidas
chegadas e partidas
travessia sem volta
lágrimas saudosas

ETERNA BUSCA


TÚ QUE ONTEM OFERECEU TUDO
HOJE TOMA PELAS MÃOS
TÚ QUE TUDO TENS
NÃO DIVIDE
NÃO ENTREGA
NÃO SOMA
PREOCUPA-SE DEMAIS COM A FALTA
SENDO QUE ELA NUNCA ESTEVE PRESENTE
TUDO APODRECE
TUDO MOFA
TUDO SOME OU É FURTADO
BUSCA CULPADOS
COMO SE CULPA PUDESSE SER DIVIDIDA
COMO SE O OUTRO FOSSE CULPADO PELO SEU ETERNO VAZIO

Paula Orsi Cruz

Foto: Flávio Azm

CHUVA


CHUVA
FENÔMENO DA NATUREZA
FORTE
ESTRONDOSA
AMBÍGUA
DESTRÓI
ALIMENTA
ACALENTA
TRANSFORMA
CALOR DA RAIVA EM LÁGRIMAS DE PERDÃO

Paula Orsi Cruz

VERMELHOS QUIÇA


VOZ DOS NEGROS
ESCRAVOS SOFREDORES
VINDOS DA ÁFRICA
TERRA MÃE
CAPTURADOS COMO ANIMAIS
SURRADOS A MANDO DOS SENHORES
CANTO TRISTE
MELANCÓLICO
SAUDADE DE CASA
DA SUA ORIGEM
MISTURA DE CRENÇAS
BUSCANDO NA FÉ
ALGUM BEM ESTAR
QUE HAVIA NA GLEBA
SOBRE VIDA
DE LIDA
DE GARRA
DE APELO DEMENTE À DIVINDADE
ÚNICA ESPERANÇA DE QUEM É DA TERRA
DO SOL E DO VENTO
DA VEIA E DE SANGUE
CÂNTICO BELO
DA FUSÃO DE ELEMENTOS
DOS AFROS BRASUCAS E SEUS ORIXÁS
MISTURA DE TUDO
DO ALÉM
AMALGAMA DE LÁ
DE TODAS AS CORES
DE TOSOS OS CREDOS
SÓ BUSCAM RESPEITO
COMO SEUS ANCESTRAIS
OS BRANCOS DAQUI
OS NEGROS DE LÁ
AMARELOS DO SOL
VERMELHOS QUIÇÁ
Paula Orsi Cruz
2004

CALDEIRADA


PARA SER DO AVESSO
FORA DE HORA
FALA DEMAIS
ESCONDE OUTRORA
É O QUE NEM É
TÃO VERGONHOSA ASSIM
MAS FAZ QUESTÃO DE ACENDER ESTOPIM
É O QUE NEM É
TÃO CERTO ASSIM
MAS COM JEITO DE AÇÃO
CONSEGUE POIS SIM
TENTA AQUIETAR INTERIOR FERVILHANTE
TENTA OCULTAR SEU LADO INFERIOR
SEMPRE TENTANDO PARECER IMPECÁVEL
MESMO QUE POR DENTRO
APODREÇA DEVAGAR
MASTIGA
ENGOLE
TUDO DE UMA VEZ
DE FORMA INSACIÁVEL
SUGA
ENVENENA
SEMPRE
QUEM SABE?
TALVEZ...
PENSA QUE ESCREVE
QUE CRIA
SACIA O BARULHO
ATRAPALHA
INCOMODA
IRRITA
SÓ ASSIM SE CALA
SE LIMPA
COM MAESTRIA PURIFICA
TUDO VOLTA PRO CENTRO

2003

MILAGRES


MILAGRES ACONTECEM O TEMPO TODO
À TODO INSTANTE
SÓ É PRECISO ESTAR ATENTO E DE CORAÇÃO ABERTO

2002

PRIORIDADE



DEVEMOS ESTABELECER PRIORIDADES E SERMOS FIÉIS À ELAS, POR MAIS INSANOS QUE SEJAM OS TEMPOS.

2001

EVOLUIR


EVOLUIR É DEIXAR DE FAZER AQUILO QUE NOS PREJUDICA.

2000

BASTA


BASTA DE: "FAÇA O QUE EU DIGO E NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO"

2000

JUSTIÇA NÃO EXISTE


Se até a justiça tornou-se injusta, em que posso me espelhar então?
Nossa justiça é elitista, cega e favoritista.
Isso me irrita, pois sinto que sozinha não poderei mudar nada.
Porém, tenho o conforto de que ao menos farei eu, o que acredito que seja justo.

2000

SENTIDO DA VIDA


gostaria de poder voltar no tempo e alterar alguns acontecimentos
mas como isso é impossível
levanto a cabeça
tento tirar o que tiver de melhor na história
sigo em frente
assumo as consequencias
todo mundo erra
todos pecam
não por isso devemos nos envergonhar
abaixar a cabeça
se soubéssemos como agir diante de cada situação inusitada a vida na terra não teria sentido

2000

COMO?


como distinguir propósitos verdadeiros dos falsos?
2000

INTEGRAL


se meu espírito conhece passado presente e futuro porque sinto-me solta no tempo?
como se tivesse nascido fora de época...
provavelmente porque ainda não consegui conectar-me por completo
acredito que com as conexões completas, me tornarei um ser integralmente consciente...
2000

AMOR



O DESCONHECIDO
O DISTANTE
O SONHADO
O AMOR SEM INTENÇÕES
NEM INTERESSES
SÓ EMOÇÕES
 O AMOR
TUDO NUMA VIDA
1999

LABIRINTO


A LIBERDADE É INFINITA
ISSO ME ASSUSTA
VÁRIOS CAMINHOS A ESCOLHER SOZINHA
O TEMPO NÃO VOLTA
QUAL DELES ESCOLHER?
AQUELE QUE TIVER RAZÃO?
AQUELE QUE TIVER CORAÇÃO?
EMOÇÃO?
PAIXÃO?
TESÃO?
SE PENSARMOS NO ARREPENDIMENTO JAMAIS SEGUIREMOS CAMINHOS DESCONHECIDOS
O RISCO É GRANDE
NÃO VIVEMOS NO MÁGICO DE OZ, ONDE O CAMINHO CERTO É ILUMINADO
A LUZ ESTÁ DENTRO DE NÓS
SÓ TEMOS QUE SABER IDENTIFICÁ-LA
COM OS ÚNICOS INSTRUMENTOS QUE TEMOS:
A INTUIÇÃO, A EMOÇÃO E O CORAÇÃO

1999

cartaz do filme O Labirinto do Fauno

ESPELHO


Não adianta querer mostrar aos outros o que realmente és, se nem você sabe ao certo o que é, ou o que quer ser.
Todos têm defeitos, qualidades, dons, dificuldades.
Supere-se, cresça.
Ame, se conheça.

1999

ESTRANHA INTIMIDADE


nesse dia de outono
sinto medo no ar
medo da vida
medo da guerra
medo de amar
o vento traz saudade
a noite,
vontade
estranha intimidade
lembro-me do coro ao luar
aquela canção ao fundo a me penetrar
o cão se aproxima sem se intimidar
segundos em que o destino se faz notar

1999

TORMENTO


um pensamento inseguro invade minha mente
um tormento imaturo minha alma sente
ou é medo do futuro ou é medo do presente

1996

Pintura: Edvard Munch - O grito

FLUIR


a vida flui enquanto procuramos nosso amor
a vida flui enquanto vemos tanto terror
a vida flui enquanto sentimos dor
mas ela para de fluir quando paramos de dar valor

1996

DRAMA QUEEN


as pessoas não dão valor à vida
veneram a morte
não vêem a hora da morte ser vivida
desacreditam da sorte
não crêem mais na amizade
no amor e na própria divindade
quero acordar deste sonho
onde todos são egoístas
quero acordar desse pesadelo
onde todos são individualistas

1996