É uma pena que a montanha mágica tenha ruído
Tenha se transformado numa dura parede de pedras
Eu enxergava livre fluir
Mas a parede, talvez, sempre estivesse ali
Sou terra, sou ar e liberta
Paredes e portas não me seguram mais
Um coração só é atingido quando aberto
Com todas as minhas forças, quis penetrá-lo
Ainda que os arames enfarpados me arranhassem de tempos em tempos
Gosto de poder ser quem eu sou
Ser aceita como sou
Ser auxiliada no aperfeiçoamento
Também poder ajudar
Sou feita de sombra e de luz
Muito mais luz do que sombra
Sou feita de características, algumas insuportáveis e outras admiráveis
Sou humana
Sou divina
Sou imperfeita e consciente disso
Sou feita de humildade e de reconhecimento dos grandes valores
Há pessoas que extraem o que temos de pior, e há pessoas que extraem o que temos de mais maravilhoso
Esta é a mágica da vida, da química, das combinações
Cometo erros e acertos
Todos os dias e aos montes
Sou o resultado íntegro de tais erros e acertos
Aceito o julgamento, ainda que não concorde com a forma e gravidade
Fiz a escolha da entrega, da transparência e da visceralidade
Fiz o meu melhor (para aquele momento)
Portanto, não me arrependo, não me culpo
Hoje, talvez, fizesse tudo diferente
Ultimamente, minha batalha é pela transparência, pela honestidade e pelo conhecimento
A luta é pela transformação do azedo em doce
Do pesado ao leve
Da rigidez à flexibilidade
Troco o excesso de seriedade pela bagunça do bom humor
Por enquanto, ainda me irrito facilmente
Isso me irrita profundamente
Ainda assim, batalho pela libertação
Porém, ponho pra fora, engolir me prejudica mais do que externar
Me torno mais tolerante a cada dia
Comigo mesma e com os outros
Buscando estar na presença de pessoas que vibram da mesma forma
Não gosto de me sentir como uma massa corrida, que só serve para tapar buracos
Menos ainda uma bengala, que ajuda o outro a voltar andar
Tampouco um degrau, em que se sobe em cima para se reerguer
Não entendo, e nem tenho a pretensão de entender
Muita mudança, muitos caminhos, muitas alterações, muitos altos e baixos
Me pergunto, pra que regar todos os dias uma planta, quando na verdade não se quer que ela vingue?
Pra quem sabe matá-la afogada?
Pra que demonstrar o que não se tem certeza que sente?
Não entendo
Porém, e de qualquer maneira, prefiro ser feliz a ter razão
Paula Orsi Cruz
Foto: Eduardo Banderas