sábado, 21 de fevereiro de 2009

PAREDE DE PEDRA


É uma pena que a montanha mágica tenha ruído

Tenha se transformado numa dura parede de pedras

Eu enxergava livre fluir

Mas a parede, talvez, sempre estivesse ali

Sou terra, sou ar e liberta

Paredes e portas não me seguram mais

Um coração só é atingido quando aberto

Com todas as minhas forças, quis penetrá-lo

Ainda que os arames enfarpados me arranhassem de tempos em tempos

Gosto de poder ser quem eu sou

Ser aceita como sou

Ser auxiliada no aperfeiçoamento

Também poder ajudar
Sou feita de sombra e de luz

Muito mais luz do que sombra

Sou feita de características, algumas insuportáveis e outras admiráveis

Sou humana

Sou divina

Sou imperfeita e consciente disso

Sou feita de humildade e de reconhecimento dos grandes valores

Há pessoas que extraem o que temos de pior, e há pessoas que extraem o que temos de mais maravilhoso

Esta é a mágica da vida, da química, das combinações

Cometo erros e acertos

Todos os dias e aos montes

Sou o resultado íntegro de tais erros e acertos

Aceito o julgamento, ainda que não concorde com a forma e gravidade

Fiz a escolha da entrega, da transparência e da visceralidade

Fiz o meu melhor (para aquele momento)

Portanto, não me arrependo, não me culpo

Hoje, talvez, fizesse tudo diferente

Ultimamente, minha batalha é pela transparência, pela honestidade e pelo conhecimento

A luta é pela transformação do azedo em doce

Do pesado ao leve

Da rigidez à flexibilidade

Troco o excesso de seriedade pela bagunça do bom humor

Por enquanto, ainda me irrito facilmente

Isso me irrita profundamente

Ainda assim, batalho pela libertação

Porém, ponho pra fora, engolir me prejudica mais do que externar

Me torno mais tolerante a cada dia

Comigo mesma e com os outros

Buscando estar na presença de pessoas que vibram da mesma forma

Não gosto de me sentir como uma massa corrida, que só serve para tapar buracos
Menos ainda uma bengala, que ajuda o outro a voltar andar

Tampouco um degrau, em que se sobe em cima para se reerguer

Não entendo, e nem tenho a pretensão de entender

Muita mudança, muitos caminhos, muitas alterações, muitos altos e baixos

Me pergunto, pra que regar todos os dias uma planta, quando na verdade não se quer que ela vingue?

Pra quem sabe matá-la afogada?

Pra que demonstrar o que não se tem certeza que sente?

Não entendo

Porém, e de qualquer maneira, prefiro ser feliz a ter razão

Paula Orsi Cruz
Foto: Eduardo Banderas

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